A recente mobilização contra a escala de trabalho 6×1, considerada prejudicial à saúde e ao bem-estar dos trabalhadores, tem ganhado destaque no cenário nacional. Essa luta, liderada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), fundado por Rick Azevedo em 2023, surge como uma resposta legítima dos trabalhadores à falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal. O VAT, com mais de 1,3 milhão de assinaturas em uma petição online, demonstrou como é possível mobilizar diferentes setores da sociedade em prol de uma causa comum.
Com o apoio da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), o movimento avançou para o campo legislativo, resultando na apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa eliminar a escala 6×1. A PEC já alcançou as 171 assinaturas necessárias para iniciar sua tramitação na Câmara dos Deputados, representando um marco significativo na luta por melhores condições de trabalho.
Historicamente, os sindicatos sempre tiveram protagonismo nas principais conquistas trabalhistas do Brasil. A criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a regulamentação das férias, o estabelecimento do salário mínimo e a licença-maternidade são frutos da nossa atuação incessante. Essas vitórias só foram possíveis porque nunca deixamos de ouvir as bases. Esse diálogo constante com os trabalhadores é a essência do movimento sindical e permanece sendo a nossa maior força.
Já há algum tempo, temos levantado a bandeira da redução da jornada de trabalho. Esse debate é crucial para promover a saúde física e mental dos trabalhadores e garantir que eles tenham mais tempo para suas famílias, lazer e outras atividades essenciais. Porém, precisamos reconhecer que movimentos como o VAT conseguiram engajar trabalhadores de diferentes categorias — muitos deles não sindicalizados — de uma forma que merece nossa atenção. Eles usaram ferramentas digitais para amplificar suas vozes e criar uma mobilização massiva, algo que os sindicatos podem e devem aprender.
O VAT mostrou que é possível transformar uma indignação coletiva em ação organizada por meio de uma comunicação acessível e amplamente disseminada nas redes sociais. Este movimento conseguiu unir trabalhadores que enfrentam a escala 6×1 em diferentes setores e dar visibilidade a uma pauta que há muito tempo defendemos, mas que, talvez, precisasse ser abordada de forma mais direta e conectada com as novas formas de engajamento digital.
Esse momento nos traz um aprendizado importante: não basta lutar pelas pautas tradicionais dos trabalhadores, é preciso encontrar novas formas de engajá-los e de conectar as nossas bandeiras às realidades do século XXI. O mundo mudou, os trabalhadores mudaram, e o movimento sindical precisa evoluir junto com eles. Acreditamos na força das bases e na importância do diálogo, mas também precisamos aproveitar os meios digitais para expandir nosso alcance e mobilizar ainda mais pessoas em torno das nossas causas.
A luta contra a escala 6×1 nos mostra que, quando há união e organização, é possível alcançar mudanças significativas. O VAT nos inspira a repensar a forma como apresentamos nossas pautas e como engajamos os trabalhadores, especialmente aqueles que não estão diretamente ligados aos sindicatos.
Essa reflexão não diminui a importância dos sindicatos — pelo contrário, reforça nosso papel de liderança e articulação. Se integrarmos as lições deixadas por movimentos independentes como o VAT à nossa experiência histórica e capacidade de diálogo com o poder público, estaremos ainda mais fortalecidos para continuar conquistando direitos e transformando vidas.
A história do movimento sindical brasileiro é uma história de conquistas. A luta pela redução da jornada de trabalho e pelo fim da escala 6×1 é mais um capítulo dessa trajetória, que só será escrita com a união de todos. Continuaremos ouvindo as bases, aprendendo com os novos movimentos e nos adaptando às novas ferramentas de mobilização, porque nossa missão é e sempre será lutar pela dignidade do trabalhador. Juntos, construímos um futuro onde trabalho e qualidade de vida caminhem lado a lado.