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Redução na filiação sindical

por Jhonatan Moura

Os dados recentes do IBGE mostram uma realidade preocupante: nos últimos dez anos, os sindicatos brasileiros perderam 5,3 milhões de trabalhadores filiados. Esse declínio reflete os desafios que as entidades sindicais têm enfrentado para atrair e manter seus membros, especialmente em um mundo cada vez mais digital e conectado. Isso nos leva a uma pergunta que não podemos evitar: os trabalhadores pararam de se importar com a luta por mais direitos, ou o sindicato não está conseguindo se comunicar com eles?

Essa reflexão é essencial, pois o problema não é a falta de demandas ou de lutas importantes. Basta observar o recente exemplo do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), criado fora do movimento sindical tradicional, mas que conseguiu mobilizar milhões de trabalhadores em torno de uma pauta que historicamente é sindical: a luta contra a escala de trabalho 6×1. O VAT soube usar as redes sociais, petições online e uma comunicação simples, direta e acessível para engajar trabalhadores de diferentes categorias, muitos deles sem vínculo com sindicatos. Esse sucesso nos desafia, como sindicalistas, a repensar nossa forma de atuar e, especialmente, de nos comunicar.

No Siemaco Guarulhos, temos encarado esse desafio de frente. Reconhecemos que, para resgatar e ampliar a conexão com os trabalhadores, precisávamos adotar uma abordagem mais moderna e digital. Investimos em nossas redes sociais, produzindo conteúdos que informam, educam e engajam os trabalhadores. Além disso, desenvolvemos um aplicativo exclusivo para facilitar a comunicação com a base e oferecer serviços que vão desde informações sobre direitos trabalhistas até a possibilidade de sindicalização online.

Essas mudanças não foram apenas uma adaptação ao mundo digital; elas representaram uma transformação na forma como nos relacionamos com os trabalhadores. Por meio dessas ferramentas, conseguimos criar um canal direto, eficiente e acessível, permitindo que os trabalhadores sintam que estão sendo ouvidos e que suas demandas estão sendo atendidas.

Os resultados foram significativos: nos últimos anos, registramos um aumento de 86% na sindicalização no Siemaco Guarulhos. Esse crescimento reflete não apenas a eficácia das nossas ações digitais, mas também o impacto positivo de estarmos mais próximos e conectados com a base. Essa experiência nos transformou em referência para outras entidades sindicais de pequeno porte, que enfrentam dificuldades semelhantes e buscam inspiração em nossas práticas para se reinventarem.

Sabemos que a digitalização não é a solução para todos os problemas, mas é um caminho indispensável para os sindicatos que desejam se manter relevantes e ativos no cenário atual. Não basta lutar por direitos se não conseguimos nos comunicar com os trabalhadores e mostrar a importância dessa luta. O movimento sindical precisa acompanhar as mudanças do mundo e encontrar novas formas de dialogar com a base.

A lição que fica é clara: precisamos nos reinventar constantemente, sem abrir mão dos nossos valores e da nossa missão. A luta sindical nunca deixou de ser necessária, mas cabe a nós garantir que ela seja visível, acessível e representativa para os trabalhadores de hoje. O exemplo do VAT nos mostra que a comunicação eficaz pode transformar uma demanda em um movimento. E o exemplo do Siemaco Guarulhos prova que, com inovação e proximidade, os sindicatos podem não apenas se adaptar, mas crescer e prosperar, mesmo diante dos desafios mais difíceis.

A questão, então, não é se os sindicatos ainda têm lugar no mundo atual, mas como vamos moldar esse lugar para continuar sendo agentes de mudança e de justiça para os trabalhadores. O futuro da luta sindical está em nossas mãos – e nas nossas telas

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