A cada novembro, o debate sobre a Consciência Negra retorna com força. Mas, mais do que um feriado, a data é um lembrete de que as desigualdades históricas ainda moldam o presente, inclusive no mercado de trabalho. Mesmo com avanços, as pessoas negras continuam em desvantagem no acesso a emprego, educação e renda.
Desigualdade estrutural no trabalho
Segundo dados do IBGE, divulgados em 2025, o desemprego ainda atinge mais pessoas pretas e pardas do que brancas. Além disso, quando essa população conquista um emprego, as diferenças persistem: os cargos de liderança seguem majoritariamente brancos e as oportunidades de crescimento são limitadas.
O levantamento realizado pelo Centro de Estudos sobre Desigualdades Raciais (CEDRA), com base em dados da PNAD Contínua (2023), mostrou que a hora trabalhada por uma pessoa branca chegou a valer até 58,3% a mais do que a de trabalhadores(as) negros(as), um reflexo de como a cor da pele ainda define o valor do trabalho no Brasil.
Mulheres negras: uma luta em dobro
Entre as mulheres, o peso da desigualdade é ainda maior. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (2025), as mulheres negras ganham, em média, 53% menos que os homens brancos e estão concentradas em funções operacionais, raramente chegando à liderança.
Além das barreiras profissionais, enfrentam índices alarmantes de violência de gênero e insegurança alimentar, reflexos diretos do racismo e do machismo estruturais. Muitas vezes, a falta de oportunidades perpetua um ciclo de violências: sem um salário digno, as mulheres permanecem em relações abusivas por dependência financeira.
Juventude negra: o racismo ainda atrapalha a esperança
De acordo com a Pesquisa Diversidade Jovem do Espro, de 2024, 41% dos(as) jovens negros(as) já foram excluídos(as) no ambiente de trabalho e 38% não tiveram reconhecimento por suas ideias, números que revelam não a falta de talento, mas a falta de espaço.
A educação é vista como o principal caminho para romper ciclos de exclusão, mas o acesso desigual e o racismo estrutural continuam a dificultar esse percurso. No Rio de Janeiro, sete em cada dez moradores(as) de favelas são negros(as), e muitos(as) jovens convivem diariamente com a violência que interrompe sonhos e estudos.
A Consciência Negra é todos os dias. A luta por igualdade vai além das campanhas de novembro: começa com o reconhecimento das desigualdades e a implementação de políticas públicas e ações concretas para mudar essa realidade.
